Caligrafia Árabe ou Islâmica?

Caligrafia Otomana do séc. XVIII. "Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso" (Bismallah)
A Caligrafia Árabe, também é conhecida como Caligrafia Islâmica e vice-versa. Porém na língua árabe ela é chamada de fann al-khatt, "arte da linha" e em persa, khoshnevisí "a bela escrita". O termo é aplicado à prática artística da caligrafia, ou à cópia de livros manuscritos nos países que partilham do patrimônio cultural islâmico.
Baseada no alfabeto árabe, que por muito tempo foi usado por todos os muçulmanos em suas respectivas línguas, esta forma de arte é especialmente reverenciada entre as artes islâmicas por ter sido o principal meio para a preservação do Alcorão.
O livro sagrado do Islã, tem desempenhado um papel importante no desenvolvimento e evolução da língua árabe e, consequentemente da caligrafia e do alfabeto árabe. Provérbios e passagens completas do Alcorão ainda são os principais motivos da caligrafia islâmica. Em determinados contextos, a religião islâmica considera a arte figurativa como idolatria e isso levou a caligrafia e as representações abstratas a se tornarem as principais formas de expressão artística das culturas islâmicas.
Página do alcorão em estilo Kufi sem os pontos
O desenvolvimento da arte da caligrafia está intimamente ligado à expansão do Islã a partir do século VII. Até então, a cultura árabe era transmitida principalmente por via oral e, embora os árabes já tivessem um alfabeto próprio, este só era usado para escrever memorandos, documentos de contabilidade comercial, epitáfios e outros usos menores. No alfabeto árabe da época, não havia os pontos que hoje distinguem umas letras das outras:  por exemplo, as letras ب, ت ,ث ( th, t, b) eram escritas toda da mesma forma. Assim o leitor devia fazer um esforço extra de interpretação, dependendo do contexto, o que geralmente não era um problema, porque muitas vezes os leitores eram os próprios escritores ou alguém que já tinha uma idéia do que foi escrito.
A formação do Estado islâmico, primeiro na Arábia e territórios não falantes da língua árabe, levanta duas questões. Primeiro, a necessidade de transmitir o Alcorão de uma forma fácil entre os não falantes do árabe, assegurando fidelidade ao texto. Por isso, o alfabeto árabe foi aperfeiçoado para que cada sinal representasse um único som: foram acrescentados os pontos a partir do qual letras diferentes são criadas. A notação de vogais como sinais diacríticos foi inventada mais tarde, por volta do ano 786 pelas contribuições de Khalil ibn Ahmad al-Farahidi. No entanto, a segunda questão era o crescimento do Estado islâmico que exigia uma gestão mais complexa e a organização de uma quantidade desconhecida de documentos anteriores ao Islã. Isso incentivou a melhoria da escrita, que se tornou mais rápida e mais nítida, dando origem a  proliferação dos diferentes estilos.

Página de um Alcorão do séc. XV em estilo cursivo ou Naskh
Nos primórdios do Islã, os estilos de caligrafia eram basicamente dois, e variavam de acordo com a superfície da escrita. Para os materiais mais duros, as letras tinham um aspecto mais quadrado e esquemático, enquanto que para as superfícies mais maleáveis, era utilizado um estilo mais cursivo. O primeiro estilo deu origem ao Kufi, que se originou na cidade de Kufa (Iraque), de caráter mais ornamental, que por sua vez, resultou em vários outros estilos, por exemplo o Kufi Magrebiano. Do estilo mais cursivo, surge o Naskh ou estilo "cópia", que é usado até hoje como modelo da tipografia árabe, que por sua vez levará a formas muito diferentes de escrita, entre os quais se destaca o Ruq'aum estilo utilizado especialmente na região do Machreq (Levante).
Como já citamos, o desenvolvimento da caligrafia como arte também se deve ao fato de que o Islã proíbe a representações de imagens figurativas e a caligrafia oferece um substituto para os ícones religiosos. Em vez de representar a Deus ou ao profeta, a arte islâmica os substitui pela representação caligráfica de seus nomes, ou frases do Alcorão , em particular o Bismallah.  
A escrita árabe em geral, independentemente da sua utilização artística, experimentou uma revolução no período islâmico, levando-se em conta a sua utilização menor em períodos anteriores. As sociedades medievais islâmicas, predominantemente urbanas, tinham um alto grau de alfabetização e as pessoas cultas se orgulhavam de dominar diferentes estilos caligráficos. A transmissão oral é mantida pela tradição, especialmente no caso do Alcorão, cujos alunos continuam aprendendo de cor, mas há um interesse paralelo pelo registro escrito de todo acontecimento, fábula ou pensamento, o que deu origem a uma literatura muito rica.  Os muçulmanos justificam esse interesse pela escrita, argumentando que a primeira palavra revelada por Deus ao profeta Muhammad é o imperativo de "leitura"  Iqra' :
Leia, em nome do teu Senhor que o criou,
criou o homem de um coágulo de sangue!
Lê! Teu Senhor é quem dá com alegria,
que ensinou através do cálamo,
ensinou ao homem o que ele não sabia
.
(Alcorão, 96, 1-5)

A caligrafia árabe começa a desenvolver sua forma artística com o calígrafo Abu Ali Muhammad Ibn Muqla (c. 940), que foi vizir do califado abássida. Ibn Muqla estabeleceu as primeiras regras de proporção no desenho das letras. Tomado o ponto como medida primária para medir o comprimento da linha e o círculo com diâmetro igual à letra alif (ا) para calcular as proporções das letras. 
Regras de proporção das letras segundo Ibn Muqla
A caligrafia árabe, persa e otomana também está associada aos arabescos e motivos geométricos que decoram das paredes e tetos das mesquitas, até as páginas do livro sagrado. Hoje em dia há diversos artistas contemporâneos no mundo islâmico e em outros países que trazem referências a herança da caligrafia ou outros motivos abstratos da arte islâmica em seus trabalhos. 

(Baseado em Wikipedia)

2 comentários:

  1. Assalam Alaykum!

    Parabéns por mais uma belíssima iniciativa de alguém que preserva a Arte no coração!
    Continue assim: bela como a Arte.

    جزاك اللهُ خيراً‎

    ResponderExcluir
  2. adorei me ajudou muito

    ResponderExcluir