Sabah Arbili: "As metáforas do passado"

Sabah Arbilli, calígrafo e escultor 
Sabah Maghded Bapir, conhecido como Sabah Arbilli é um calígrafo e escultor britânico de origem iraquiana. Nos últimos dez  anos, o trabalho de Arbilli teve um grande impacto na arte inspirada pela caligrafia árabe no cenário internacional. Artista premiado, ele explora a caligrafia em um estilo contemporâneo que combina a estética da pintura com a beleza das letras árabes.
Nascido em  Arbil, Iraque em 1977. Aos 14 anos, Sabah conheceu seu primeiro mestre, o calígrafo Bijart Arbilli. Bijart ensinou a Sabah como posicionar o cálamo da maneira correta, levando-o ao entendimento das formas geométricas e da beleza de cada letra. Em 1997, o conhecimento de Sabah em caligrafia se aprofundou após iniciar o curso de engenharia na Universidade de Saladin em Arbil.  Ele encontrou a relação entre os princípios da caligrafia e da engenharia, que tornaram seu olhar mais apurado. Depois que se mudou para o Reino Unido, Sabah Arbilli colaborou com vários artistas no campo da caligrafia, produzindo trabalhos em vários estilos. 
A seguir trechos de uma entrevista que Sabah Arbilli concedeu para o site Islamic Arts Magazine:

Sabah Arbilli / Intenção, 2013 
Sabah Arbili/ Elementos, 2013
Como um artista ganhador de muitos prêmios, poderia nos falar mais sobre você e de onde vem sua inspiração?  
Quando eu era muito jovem, meu professor treinou minha habilidade natural de escrever e desenhar o que desenvolveu em mim a paixão por uma bela forma de escrita. Minha formação e o cenário onde eu cresci no Iraque também contribuíram muito para a minha inspiração. A situação no Iraque se tornou tumultuada e com a paixão que eu trazia dentro de mim, quis combater a negatividade através de palavras positivas que ecoavam ao meu redor. Vi a riqueza do meu país que era adornado com beleza e estas eram as memórias que eu desejei representar através da minha arte. 
Meu primeiro prêmio veio quando eu tive a oportunidade de participar em 1997 de uma competição internacional de artes em  Istambul. Este foi um ponto de virada em minha vida; eu ganhei o segundo prêmio aos 19 anos. A parti de então eu decidi trabalhar arduamente em minha arte participar de outras competições. 

Quando usa a caligrafia islâmica como fonte de inspiração para criar seu próprio estilo contemporâneo seu método é livre ou você ainda necessita seguir as regras da caligrafia tradicional? 
Eu estou em um estágio agora em que  dominei as regras da caligrafia através dos anos. Eu explorei vários estilos e técnicas da caligrafia e meus novos trabalhos mostram minha liberdade de expressão e meu estilo próprio. 
Eu vejo forma, figura, curvas e bordas nas letras árabes e todos estes fatores me trazem uma ligação total com a beleza da caligrafia árabe em particular. Eu não vejo a mim mesmo como um calígrafo convencional porque estudar engenharia me deu uma visão mais ampla sobre as dinâmicas de compreensão do espaço ao meu redor e com isso eu posso ser mais flexível em meus desenhos.

Sabah Arbilli / Sonho, 2013
Sabah Arbili / Desaparecimento, 2013
Algumas de sua pinturas são nomeadas de: Caminho, Esperança, Protesto. Pode nos falar mais sobre as mensagens por trás destas obras de arte? 
Os títulos das obras mencionadas foram inspirados por reminiscências do meu passado. Eu devo fechar meus olhos para ver e capturar o momento passado, como um flash back. É como um contador de histórias revisitando o passado.

Suas pinturas são brilhantes e cheias de luz, há um sentimento de harmonia. Há algum significado simbólico por trás disto e o que faz você escolher sua paleta de cores? 
As cores da nova série refletem o significado do texto do modo que eu o visualizo. A partir do texto eu expresso sentimentos e humor pelo uso das cores nas letras.

Sabah Arbili /  Esculturas, 2013
Suas esculturas são compostas de letras e palavras árabes. Há alguma mensagem especial ou você usa a caligrafia apenas como uma exploração da forma e textura? Como seu trabalho se conecta com o público? 
Eu sempre quis ter uma abordagem inovadora naquilo em que estou fazendo. Em minhas esculturas eu quis gerar curiosidade através da emoção. Isto leva uma outra dimensão de experiência para o público, além da forma de caligrafia.

Sabah Arbili / Caminho, 2013
Sabah Arbili/ Protesto, 2013
Seu trabalho recente, criado em uma mostra ao vivo chamado “Metafórico,” mostra como partes de suas pinturas desvanecem em cores e detalhes. Pode nos falar mais sobre este projeto? 
A arte é parte da nossa vida diária e o melhor caminha para absorvera realidade é capturando o momento de transição através de um pensamento profundo. Quando eu visitei minha terra natal eu percebi como o país estava destruído. As cores brilhantes e a harmonia entre as pessoas começou a desvanecer e a voz da violência tomou o lugar delas, minhas lembranças de infância começaram a desaparecer. O presente rapidamente se tornou o passado e uma memória apagada.  

Pode citar alguns artistas que você respeita e recomenda como uma inspiração? 
Quando eu me mudei para o Reino Unido, estudei artes na Prince's School of Traditional Arts. Isto me deu conhecimentos muito mais amplos e cheguei a conhecer vários mestres. Visitar os museus me deu um grande impulso para seguir adiante. Apesar de começar como um artista tradicional eu sempre tive uma queda pela beleza da arte contemporânea e em minha opinião ambas são necessárias para a inspiração. Artistas como Jackson Pollock, Andy Warhol e muitos outras me deram confiança para pensar de um modo novo.


Parviz Tanavoli, "O Grande Livro do Heech"

“O Grande Livro do Heech” vai além dos limites dos livros de artistas tradicionais. O escultor iraniano Parviz Tanavoli, é internacionalmente conhecido por sua série representando a palavra "Heech" (cujo significado é “Nada” em persa).O livro de 15 páginas gradualmente dissolve a forma da palavra "nada" em alto relevo, e lido no sentido inverso a reconstrói, ilustrando um conceito filosófico adotado pelo próprio Tanavoli: “o universo começou com o nada e irá terminar no nada". O papel e a capa do livro são todos artesanais, feitos com materiais orgânicos, processados manualmente usando uma técnica tradicional no estúdio de Tanavoli em Teerã.



A Nova Geração dos Calígrafos Iranianos

Exposição The Next Generation: Contemporary Iranian Calligraphy, 2012
Imagem do site: Kashya Hildebrand
A arte iraniana entrou em um período de transformação particularmente significativo, levada por uma próspera comunidade artística tanto dentro como fora do Irã. Embora estes artistas tenham sido treinados e inspirados pela caligrafia clássica, a tradição serve para eles principalmente como um ponto de partida para suas explorações nesta forma de arte. Trabalhando em ambos os lados da fronteira iraniana, estes artistas nos trazem percepções surpreendentes da energia artística de uma cultura que está constantemente evoluindo e se adaptando.
A prática da caligrafia originalmente se desenvolveu para transmitir a palavra de Deus em forma escrita. A ideia era representar a perfeição da palavra de Allah através de uma escrita também perfeita. Para se tornar um mestre calígrafo, são exigidos anos de um rigoroso treinamento e o aprendizado dos vários estilos calígráficos que seguem cada qual suas próprias regras. Os calígrafos se consideram artesãos e não artistas, ou seja, eles não anseiam por criar obras primas originais, mas antes dominar as técnicas tradicionais. 
Porém, esta nova geração de artistas* ao invés de seguir as tradições, buscam seguir os passos daqueles que foram os primeiros mestres a revolucionar a forma da caligrafia incluindo  Mohammed Ehsai, Charles Hossein Zenderoudi e Nasrollah Afjehei, que estudaram tanto no Irã como em academias de arte na Europa e transitaram facilmente entre o oriente e o ocidente buscando novas inspirações enquanto desenvolviam suas próprias linguagens visuais.


Aghighi Bakhshayeshi,  Traços, 2012
81,5x150cm, óleo e folhas de prata sobre tela
Formada em Teerã Aghighi Bakhshayeshi foi treinada nos estilos tradicionais de caligrafia como Nas’taliq e Muhaqqaq. Atualmente, ela incorpora o estilo Kufi persa em seus trabalhos, criando formas simbólicas que tem como referência a poesia e a religião. Com um sensível uso da cor e ritmo, além de uma precisão acadêmica, sua visão artística passeia sem problemas  entre as fronteiras da caligrafia tradicional e das novas modalidades de criação artística. 

Mohamed Bozorgi (Teerã, 1979)

Mohamed Bozorgi, Grito 01, 2012
 224x330cm, técnica mista s/tela
Formado em Teerã Mohamed Bozorgi  praticou com a Sociedade de Calígrafos Iranianos durante 15 anos e alcançou um nível de excelência. Entretanto, parou seu treinamento por achar as regras da Sociedade restritas demais, desencorajando inovações. Em sua prática, ele usa movimentos harmônicos e elegantes de curvas dançantes criando belos padrões repetitivos, que permitiram que ele desenvolvesse sua própria linguagem em um formato contemporâneo. 

Habib Farajabadi ( Shahrood, 1982)

Habib Farajabadi,  Luz,  2011
180x150cm, acrícilo s/ tela
Farajabadi é um dos arautos da nova geração de abstracionistas do Oriente Médio. Ele desenvolve um vocabulário pessoal único, inspirado numa fusão dos elementos das práticas pós-modernas do ocidente com as do Oriente Médio. Em seu trabalho, De Kooning dança com a caligrafia e o grafite de Teerã se mistura com Basquiat. Ele também empresta estilos e imagens, por exemplo, da Arte Povera italiana ou do movimento Pattern and Decoration americano. 

Hadieh Shafie (Teerã, 1969)

Hadieh Shafie, Franja,  2011 
66x66cm, acrílico e tinta s/ papel Arches
Escolhendo ignorar as regras da caligrafia, a artista formada em  Baltimore Hadieh Shafie cria obras em que que processo, repetição e tempo estão em primeiro plano. Para criar suas peças mais conhecidas, Shafie marca milhares de tiras de papel com textos impressos e manuscritos em pers e então os enrola em círculos concentrícos, escondendo ou revelando diferente elementos dos textos. As formas concêntricas de papel e texto aludem a dança dos dervixes rodopiantes. 

Abolfazi Shahi (Kashan, 1974)

Abolfazi Shahi, Não durma nu comigo -  isso não é bom, 2012
90x122cm, algodão e corante natural
Embora tenha sido treinado como calígrafo, Abolfazi Shai passou a criar tapeçarias com piadas e declarações irônicas sobre a cultura iraniana. Literatura, caligrafia e tapeçaria são uma parte vibrante da herança persa, e enquanto a caligrafia sempre esteve presente adornando as mesquitas e espaços públicos, não é comum encontrá-las nos tapetes, porque seria desrespeitoso com o texto caminhar sobre ele.  Shahi, representa estes tapetes como uma amostra das divertidas letras de canções populares que as tecelãs cantam enquanto trabalham.

Behrouz Zindashti (Salmas, 1979)
Behrouz Zindashti, Série Mihrab 2, 2011
230x140cm, tinta s/ folha de ouro, 
Formado em Tabriz, Zindashti é influenciado por um princípio no qual o desenho tem uma correlação entre a arquitetura e a ética. Ele acredita que seus trabalhos funcionam como espaços alternativos de oração, repetindo o texto das Orações pela Prosperidade em uma improvisação abstrata dos escritos Seljúcidas e talismãs. Sua obra expressa humidade e devoção espiritual, mas diferente da caligrafia tradicional que ilustra versos corânicos ou poesia, Zindashti traz outras referências. 

*As obras dos artistas apresentados aqui fizeram parte da exposição The Next Generation: Contemporary Iranian Calligraphy , na Galeria Kashya Hildebrand de Zurique, entre Junho e Agosto de 2012. 

Baseado em Islamic Arts Magazine

Sameh Ismail, "Uma Saída Segura"

Sameh Ismail, calígrafo e pintor egípcio
Ao contrário da maioria dos calígrafos árabes e muçulmanos, que tendem a restringir sua arte aos versos do Alcorão ou ao Hadith, o egípcio Sameh Ismail optou por uma nova aproximação ao mundo da caligrafia contemporânea tornando-a uma forma de arte mais popular e acessível. Na série A Safe Way Out ("Uma Saída Segura") Ismail criou pinturas de grande escala com dois conceitos paralelos: político e pessoal. Segundo o artista "ela marca sua transformação de um certo estilo em que os elementos caligráficos eram claros e nítidos, para um novo em quem a caligrafia é abstrata demais para ser notada". Ele ainda aponta para a possibilidade de uma transformação em seus materiais e técnicas: “É possível que eu explore vídeos, ilustração, escultura ou cerâmica como novas mídias em futuras exposições. O lado político disto é meu desejo que o Egito encontre uma saída segura para este caos que nos temos vivido nestes últimos três anos". 
Esta série compreende cerca de  30 telas, a maioria delas são desenhos em papel, com algumas pinturas sobre tela. Tons de preto e marrom são as cores dominantes. O quadrado e o ponto são elementos recorrentes. “O quadrado tem um belo significado: ele se remete a estabilidade e ao equilíbrio; o ponto também se refere ao equilíbrio na caligrafia árabe,”  explica Ismail. E de fato estes fantásticos desenhos são feitos com materiais muitos simples como grafite, carvão, pós orgânicos e estêncil geométricos. Outro importante material utilizado é a borracha: "ela é uma parte importante em meu processo de desenho, como eu tenho a tendência a apagar mais linhas do que acrescentar. Isto permite que eu tenha mais espaços em branco para iluminar, deixar o silêncio prevalecer, e para evitar distorções e ruído, deixando o cérebro e os olhos do observador relaxar."

“Eu acredito que há uma unidade especial entre diferentes linguagens. O que importa é a dinâmica da letra, a dinâmica da linguagem; eu atento para criar uma linguagem universal, e depende do observador interpretar o que a imagem denota. Em quase toda nova exposição, eu desafio a mim mesmo e meu público, a tentarem alinhar o que conduzirá para outra mudança no próximo projeto", Ismail sorri, acrescentando que ele tem orgulho de ver sua caligrafia ao lado de outros artistas de prestígio. 

Nascido em 1974, Ismail é graduou-se no departamento de escultura em 1997. Ele é largamente aceito com um dos pioneiros no uso da caligrafia árabe na arte contemporânea. Atualmente seu trabalho está é exposição até 28 de janeiro na Galeria de Artes Zamalek no Cairo.  










Baseado em Al-Ahram Weekly (veja a série "Safe Way Out" completa no site da Galeria Zamalek

Saleh Al-Shukhairi: caligrafia árabe experimental

Saleh Al Shukhairi, Omã
O artista Saleh Al Shukairi nasceu em 1977 em Mascate, Omã e estuda a caligrafia árabe desde 1993. Membro da Omani Arts Association, Al Shukairi com alguns anos de prática e experiência, entrou oficialmente para o cenário das artes com sua primeira exposição em 1997. Naquele mesmo ano, ele começou a desenvolver um estilo moderno da caligrafia árabe. Seu trabalho abrange desde a caligrafia clássica ao abstracionismo contemporâneo experimentando com materiais, cores e técnicas variadas. 
“Comecei usando as 28 letras do alfabeto árabe de um modo que ninguém pudesse ler exceto eu. Com o tempo decidi apresentar meu trabalho de forma que permitisse ao observador encontrar uma mensagem e se identificar com minhas pinturas. Meu objetivo é provar que as letras árabes podem expressar emoções". 
Com planos de lançar livros sobre a caligrafia árabe e a arte contemporânea no Omã, Al Shukairi se esforça em desenvolver seus conhecimentos e espera um dia se tornar um dos maiores calígrafos da região. A seguir, a tradução de uma entrevista do artista para o site Khaleejesque, onde ele explica seu trabalho:

Da série Esheq ("Amor")
O que te chama mais a atenção na caligrafia árabe?

A caligrafia árabe é nossa história e tesouro. As letras árabes são sempre dinâmicas em suas formas e linhas podem ser usadas para criar incontáveis composições Ás vezes eu me surpreendo quando surge uma nova ideia ou obra de arte, com quantas formas as letras podem ser usadas e eu adoro especialmente a letra waw (و) em minhas composições.

Como você está fazendo a caligrafia árabe mais contemporânea?
Usando telas e cores modernas, eu estou fazendo a caligrafia árabe mais contemporânea por usar as mesmas formas e os mesmos métodos, porém de um modo não tradicional.

O que você gostaria de refletir por meio de seu trabalho?
Eu gostaria de mostrar como a caligrafia árabe pode faclmente confundir o público que vê meus trabalhos pela primeira vez. Quando focado na harmonia visual das letras ao invés de seu contéudo, é difícil fazer sentido para as pessoas. Eu não sei se essa confusão é saudável ou não mas eu gosto do fato de isto ser livremente empregado e mostrado para o público.

Qual é a sua obra favorita?
A série “Esheq” qeu eu fiz specialmente pelo “Amor & Paz” no mundo. Eu quis mostrar  que o amor e a paz são tudo que o mundo precisa.

Qual é a principal diferença entre a arte da caligrafia árabe, turca e iraniana? Qual delas você prefere?
Eu gosto de todos os estilos de caligrafia árabe. Todos eles tem sua própria história, pioneiros e fundadores. Eu respeito a todos elas mas os estilos que eu mais gosto de usar em meus trabalhos são o “Thuluth” e o “Farsi”.







(Baseado em Khaleejesque e The Ara Gallery)